Num favelão, dia de sol, alto verão, meio-dia, calor infernal, três homens entram num barraco pequeno, quente e úmido, arrastando um rapaz magrinho e franzino pelos braços. Lá dentro, no ambiente fétido, de calção azul desbotado, sem camisa - Djalmão! Um negão enorme, com mais cicatrizes que tatuagens ou vice-versa, muito suado, fedendo, cara de enjoado, palito no canto da enorme boca, limpando as unhas com um facão de cortar coco.
Um dos homens diz:
- Djalmão, o Chefe mandou você dar uma enrabadinha nesse cara aí. Disse que é pra ele aprender a não se meter a valente com o pessoal da favela.
A vítima grita de desespero e implora por perdão. Mas o Djalmão apenas rosna, ignorando os lamentos do homem:
- Pode deixar ele aí no cantinho, que eu cuido dele daqui a pouco. É hora do almoço!
Quando o pessoal sai, o rapaz diz:
- Sr. Djalmão, por favor, não faz isso comigo não, me deixa ir embora, eu não digo para ninguém que o senhor deixou eu ir embora sem a punição...
Djalmão, sem mexer um músculo desnecessário, diz:
- Cala boca e fica quieto ai!
Cinco minutos depois, chegam mais dois homens arrastando um outro, com os braços amarrados para trás:
- O Chefe mandou você cortar as duas mãos e furar os olhos desse elemento aí. É pra ele aprender a não roubar dinheiro das "bocas de fumo" e nem botar olho grande no que é dos outros.
Djalmão, com voz grave:
- Deixa aí no cantinho que eu já resolvo. To na hora do rango!
Pouco depois, chegam os mesmos homens, arrastando outro pobre coitado...
- Djalmão, o Chefe disse que é pra você cortar o “bilau” desse cara aqui, pra ele aprender a não se meter com a mulher do Chefe. Ah! Ele falou também pra você cortar a língua dele e todos os dedos das mãos, para não haver a menor possibilidade dele bolinar mulher nenhuma da comunidade, tá?
Djalmão, jeitão de entediado, voz mais grave ainda:
- Já resolvo isso. Bota ele ali no cantinho, junto com os outros.
Os homens saem do barraco, e o primeiro rapaz entregue aos cuidados do Djalmão diz, com voz baixa:
- Seu Djalma, com todo o respeito, desculpe atrapalhar seu horário de almoço. Eu sei que o senhor é um homem muito ocupado e eu estou vendo que tem muito serviço. Eu só queria lembrar, para o senhor não se confundir: eu sou o da enrabadinha, tá?
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